
.
CASTELO DE CARRAZEDA DE ANSIÃES
nos dias de chuva
nada há a separar as muralhas das nuvens,
mas nos dias de sol
o granito renasce na paisagem ao redor
e abre a sua pele dura
às mãos que o queiram tocar.
aqui onde o país se esqueceu de Portugal
nem a bandeira flutua,
só os mortos,
só o silêncio que o vento tomba entre castanheiros
e ressequidas ervas ralas
que são como línguas exaustas no meio das pedras.
do alto avista-se a soledade,
e pomares de maçãs, e montanhas cansadas.
um arco desperta-nos o olhar,
o da porta da traição:
por ela tudo se foi, até os crentes desta igreja medieval
para onde a tarde escorre em pó,
trazendo não sei que triste piedade