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MIRANDA DO DOURO
em lugar nenhum me pareceu Miranda
tão bela
como na loja dos frutos secos
mergulhas as mãos no gigo das nozes
ou das amêndoas
e sentes a volúpia dos círculos
(a forma arredondada dos seixos enxutos)
e sentes o pó de ouro que ergue o vento
no interior do castelo desmantelado
e que se torna ele próprio
aceitável
e parte da paisagem
se almoçares num dos restaurantes típicos,
hás de pedir a posta de carne generosa
(com alhos e batatas a murro),
se hás de petiscar,
pedirás doce de figo e roscos,
se beberes,
hás de sulcar as arribas íngremes
que entalam o fio verde do rio,
hás de caminhar pelas ruas em duas línguas,
hás de respirar o aroma de cravinas
que desce dos varandins
e queimar o rosto na praça da Catedral
aí entrarás para rezar,
aí em silêncio mergulharás as mãos
e em silêncio as hás de retirar
nessa lojinha amei o outrora
como se ama uma frase sem excesso
ou a luz perfeita de uma memória
as mãos tocam a antiguidade e a juventude
da terra.
não há outro lugar assim em Miranda,
não há