tanta vezes o imploraste,
pois aí o tens.
não o quero, senhor!
pois sim, hás de escutá-lo,
conhecer todas
e cada uma das suas notas.
não consigo, senhor!
consegues, pois: basta que cales
tudo em ti,
uma coisa de cada vez,
como se ocultasses os buracos
de uma flauta
silêncio, a casa abandonada,
o olhar em fuga pelas paredes sem cal,
as vigas a céu aberto,
a cauda das estrelas,
os estalidos,
o chão sem fundo sobre o abismo da terra,
os antigos móveis que empilharam, em cujas gavetas
permanecem numa dignidade de aristocratas defuntos
as memórias e o caruncho,
o amor e a solidão absoluta
silêncio, sim.
a casa que deixámos decair, como se fosse,
por assim dizer, uma religião esquecida
era no tempo das flores,
o sol estava para lá dos cílios,
no ar sentia-se o desenho vibrante de um zangão.
deitado na erva, eu não pensava em nada,
nem sequer no silêncio
o cheiro das cinzas é quase
tão indecifrável quanto
a efusão da tinta.
com elas escrevemos
não palavras, mas o silêncio,
não a manhã, mas memórias,
não o fim, mas um rosto –
também ele impossível
de dizer,
seja de que forma for