Em Nome da Luz (Elefante Editores, 2022)
Com Em Nome da Luz, João Ricardo Lopes atinge a plenitude de uma poética da serenidade. A luz é símbolo central — conhecimento, memória, transcendência — e atravessa poemas que articulam o silêncio, o tempo e a experiência do sagrado nas coisas simples. As paisagens (naturais e interiores), as viagens e as obras de arte servem de ponto de partida para uma reflexão sobre a condição humana e o sentido da beleza. O tom é meditativo, depurado, luminoso. O poeta fala a um “tu” íntimo e universal, num diálogo de cumplicidade e compaixão. É um livro de reconciliação: entre o homem e o mundo, o finito e o eterno.
(José Pedro Gomes)
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Eutrapelia (Labirinto, 2021)
Após uma década de silêncio editorial, o autor regressa com Eutrapelia, livro que celebra o olhar lúdico e sensorial sobre o mundo. Inspirado na ideia aristotélica de “moderação do espírito”, o título sugere uma ética do prazer e do equilíbrio. O poeta explora as cores, os sons, as texturas e as memórias da infância e da arte, fundindo pintura, música e viagem numa linguagem visual e subtil. Cada poema é uma breve epifania, onde o mundo se revela em claridade. A maturidade da voz poética alia-se à simplicidade do olhar: o livro é um elogio da vida, da leveza e da contemplação.
(Paula Morais)
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Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections (Labirinto, 2011)
Obra bilingue português-inglês, Reflexões à Boca de Cena / Onstage Reflections faz da metáfora teatral o centro da reflexão poética. O palco é o mundo e o poeta, um ator que habita papéis, máscaras e silêncios. A escrita dramatiza o eu e o outro, o visível e o oculto, o gesto e a palavra. Há uma consciência metapoética acentuada: escrever é representar, é encenar o pensamento. Os poemas alternam entre o tom meditativo e o performativo, revelando uma harmonia entre rigor formal e intensidade emocional. Nesta obra, João Ricardo Lopes aprofunda o diálogo entre arte e vida, poesia e teatro, num exercício de autorreflexão estética e existencial. Tradução para inglês de Bernarda Esteves.
(César Martins)
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Dias Desiguais (Labirinto, 2005)
Com Dias Desiguais, João Ricardo Lopes simplifica a linguagem e volta-se para o quotidiano. São poemas curtos, diretos, em que a inquietação interior se mistura com a observação atenta do mundo. A irregularidade dos dias — ora luminosos, ora sombrios — torna-se metáfora da própria existência. A poesia aqui é despojada, quase mínima, mas intensa: cada verso contém uma revelação, uma pergunta, uma dúvida essencial. A serenidade e a lucidez substituem o ímpeto confessional dos primeiros livros. O poeta mostra-se consciente da impermanência e aceita a inconstância da vida como motor da criação. A sua voz amadurece, depura-se, torna-se mais filosófica e humana.
(Catarina Nunes)
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Contra o Esquecimento das Mãos (Labirinto, 2002)
Estruturado em sete partes, este livro amplia o horizonte da poesia anterior, explorando temas como o tempo, o corpo, o trabalho manual e a memória. As mãos tornam-se metáfora da criação, mãos que constroem, acariciam, escrevem e resistem ao esquecimento. O poeta confronta-se com o envelhecimento e com a passagem do tempo, buscando na palavra uma forma de permanência. O lirismo é denso, simbólico e introspetivo, revelando um olhar maduro sobre o mundo e o ofício poético. Contra o Esquecimento das Mãos é também uma meditação sobre a fragilidade da matéria e a força do gesto criador: o poema como tentativa de recordar o que o tempo apaga.
(Sebastião Monteiro)
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Além do Dia Hoje (Junta de Freguesia de Fânzeres, 2002)
Antologia onde se reúnem os primeiros poemas do autor, Além do Dia Hoje reflete sobre o fazer poético e a relação entre a palavra e o tempo. O autor interroga a essência do ato de escrever, a fragilidade da linguagem e a finitude da existência. Cada poema é uma tentativa de dizer o indizível, de inscrever o instante efémero na página. A presença do quotidiano convive com a reflexão metafísica, numa escrita que oscila entre o sonho e a lucidez. Nele metafísica e física não se dilaceram, antes se supõem reciprocamente. A musicalidade do verso e a contenção emocional já anunciam a maturidade que se consolidará nas obras seguintes.
(Maria de Fátima Saldanha)
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A Pedra Que Chora Como Palavras (Labirinto, 2001)
Livro de estreia de João Ricardo Lopes. Nele entretece-se uma poética de fusão entre o corpo e a linguagem. A pedra e a palavra, símbolos de permanência e fragilidade, encontram-se num diálogo tenso no qual o desejo se faz verbo e a emoção se traduz em forma. A escrita é contínua, quase sem pontuação, revelando a urgência do dizer e a recusa da pausa. O poeta busca a revelação do ser através do som, do toque e da memória, construindo uma voz sensorial, íntima e confessional. A Pedra Que Chora Como Palavras afirma-se como manifesto inaugural de uma poesia que entende o ato de escrever como gesto vital, matéria viva em metamorfose constante.
(Pompeu Miguel Martins)
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