Pequeno elogio aos limões

Fotografia de Bruno Neurath Wilson

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PEQUENO ELOGIO AOS LIMÕES

para a Céu

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sopeso-os na mão, acaricio-lhes a pele enrugada,
o pó-verdete repousando entre as volutas do seu
dorso.
depois na fruteira eles são invariavelmente o sol, luz
que a casa acalenta com prazer

a faca que os corta pela metade enche-se do seu sangue
translúcido e perfumado – e amargo –
e as narinas ventilam a sua presença vívida
e pujante

nenhum alimento desdenha o segregar humilde
deste citrino, como não o faz a memória
à voz de velhos mestres que se tiveram, e que outrora
nos impunham a decência inquebrável
da caneta sobre o caderno

diria que o sangue dos limões é cândido
e talvez um pouco triste,
mas jamais inócuo – jamais indiferente

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