CONSOADA

Casa em ruínas.
Fotografia de Sven Fennema

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CONSOADA

num canto penumbroso da casa, Púlcreo observava-se diante
um espelho antigo, estremecendo
à passagem do ar frio
pelas frinchas

os meus avós viveram aqui

a lareira mascarrada, sem fogo, com os tijolos à mostra
não convencia ninguém.
nem ela, nem as janelas presas por arame, desvidradas

só as silvas, com as suas línguas
farpadas, arrepiavam

mal os conheci.
esta noite seremos só eu e a minha mãe

havia restos da telha por toda a parte.
com os cacos desenhávamos cruzes no chão.
no meio do entulho esmagado rebentavam
pés de azevinho –
como podia o visqueiro nascer ali
era uma boa,
era uma excelente pergunta

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