
.
NO CENTENÁRIO DE EUGÉNIO DE ANDRADE
procurava o mar
como quem busca o som de um provérbio,
ou o frio de novembro
para no tempo se agasalhar do tempo
a imensidão da água
– o que quer que ela fosse –
era o mais parecido que há
com a eternidade
seguia pelo areal com a crença
do peregrino
a quem faltassem motivos
para acreditar
às vezes percutia-lhe nos pés
uma concha náufraga,
quebrada,
moribunda
e havia nisto um sentido,
uma dor escanzelada e aguda, uma metáfora:
algo lhe mostrava alguém,
alguém lhe dizia algo