Foto: Antonio Grambone
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CHUVA
em certos lugares encontra-nos a noite
caindo nas mãos um do outro
como duros pedaços de antracite
que o lume seca e lava
e fragmenta
a desolação produz poças negras e viscosas,
em cujo silêncio mergulha às vezes
um corpo exangue
dói quase tudo,
uma frase presa na traqueia,
a chuva desamparada no varandim,
o inseto afogado na água,
o tempo que devagar nos morre
no ódio comum
nada nos salva,
nem a poesia,
nem a invisível chama dos olhos marejados,
nada