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ALDEIA
Toninho vendeu-me três ovos sarapintados
por trinta escudos
negociei-os eu uma manhã, a custo, aos sussurros, entre contas de tabuada
o sol entrava pelos janelões e fazia suspirar
quando cheguei a casa, o avô atirou-se-me às orelhas
por causa deles
eram três ovos de escrevedeira, ainda quentes,
belos como eu e as minhas irmãs juntos!
fomos à procura do ninho e descobrimo-lo,
com a ajuda de Mitrino
depois o avô levou-me pela mão até às videiras,
o podão na ilharga,
as fitas do canavial presas ao cinto como espadas
um e outro caminhámos sem pressa, de cepa em cepa,
duas sombras ao fundo da paisagem,
luminosos como agriões na água
não dissemos palavra,
nem o ranger das botas se ouvia