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NO CENTENÁRIO DE EUGÉNIO DE ANDRADE
procurava o mar
como quem busca o som de um provérbio
ou o frio de novembro
para no tempo se agasalhar do tempo
a imensidão da água
– o que quer que ela fosse –
era o mais parecido que há
com a eternidade
descobriu-se no areal com a ternura
do peregrino
a quem faltassem motivos
para acreditar
às vezes vinha-lhe aos pés
uma concha náufraga,
quebrada,
moribunda
e havia nisto um sentido,
uma dor escanzelada e aguda, uma metáfora:
algo lhe mostrava alguém,
alguém que lhe repetia algures estou aqui, estou aqui
19.01.2023
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