
.
OUTUBRO
no ponto exato do caderno onde deixaste o verão,
o sol é já um deus diminuído e só
outubro é a carne verde dos primeiros dióspiros
se dormes até mais tarde, ao abrires as janelas
vês a coluna de fumo ao longe
erguendo as fogueiras
até ao lugar onde os pássaros fogem
embriagas-te no odor da madeira incinerada,
no cheiro que a terra torna inconfundível
ao vibrar com os pingos
da chuva
no caderno ficou-te o traço firme das certezas
mas na boca agora só a amargura eclode,
só ela como a última cinza arde no corpo de uma vestal